No Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, o Assopra a Fita conversou com Amanda AMD, comentarista de esports e ex-atleta profissional de CS:GO. Sabemos que as marcas já perceberam a importância de incluir as mulheres em suas ações, mas Amanda explicou de que forma, de fato, elas podem contribuir para apoiar o cenário feminino. Vem comigo conferir esta edição especial!
As minas tão on, mas as marcas nem tanto
Hoje, dia 25 de novembro, é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher. Datas como esta são fundamentais, mas são apenas uma lembrança do que mulheres de todo mundo passam todos os dias em suas vidas.
Pra se ter uma ideia, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 51% dos brasileiros relatam ter visto alguma situação de violência contra a mulher nos últimos 12 meses. Além disso, uma em cada quatro mulheres de 16 anos ou mais foi vítima de algum tipo de violência no último ano aqui no Brasil.
É claro que no universo dos games, não é diferente. Estamos falando de um cenário competitivo e - infelizmente - ainda muito tóxico. Mulheres sofrem preconceito, são xingadas, são ofendidas, são humilhadas. As violências cotidianas são inúmeras.
Mas é importante lembrar que as mulheres são maioria no mundo gamer. De acordo com a Pesquisa Game Brasil, 51,5% dos jogadores de jogos digitais são mulheres.
Estamos em todo o lugar: nos smartphones, nos consoles, nos PCs, nos esports. Mesmo assim, ainda não aparecemos em todas as campanhas de marcas e estamos longe de ganharmos o respeito devido a nós como parte fundamental desta equação.
Em um artigo para a ESPN, a colunista Evelynn Mackus lembrou que existe uma estrutura social que dificulta muito a ascensão das mulheres neste universo. Afinal de contas, elas ainda são a maioria no trabalho doméstico, cuidando da casa e da família. Historicamente, esse é um papel da mulher, que acaba muitas vezes não tendo o mesmo tempo para se dedicar ao cenário gamer que seus colegas homens. Essa questão, inclusive, perpassa o universo dos jogos e se aplica a tudo.
Sabemos que a tendência no cenário gamer é de mais inclusão e representatividade. As marcas jamais esquecem de comemorar o Dia das Mulheres, por exemplo. Dão voz a elas. Fazem matérias especiais, certo? Mas e depois? Muitas vezes o que acontece é que dão uma desaparecida da face da terra e parecem esquecer que as jogadoras existem e são maioria.
Mas as grandes companhias e marcas é que têm o dinheiro e o poder de ajudar a mudar esse cenário. Elas podem fazer a diferença na vida de milhares de mulheres talentosas, que se esforçam todos os dias para transformar o mundo gamer em um espaço mais inclusivo e igualitário.
Amanda AMD é comentarista e analista de esports, ex-atleta profissional de CS e já foi sete vezes campeã. Com uma vasta experiência no segmento, ela explicou que as marcas precisam expandir os seus olhares.
“A gente sabe muito quando as marcas gostam de entrar [na causa] apenas no Dia das Mulheres. E aí, do nada, elas somem. Então, isso é uma coisa que as marcas podem fazer: não entrar nessa pauta apenas no Dia das Mulheres”, explicou ela.
De acordo com Amanda, é difícil ser abordada como profissional apenas em datas especiais.
“Perguntas como ‘conte como é sofrer assédio?’, ‘conte um episódio de machismo?’ para fazer um vídeo e divulgação de campanha… pois é, a gente está cansada de fazer isso, por mais que passemos por isso, literalmente, em todos os lugares. Não são situações exclusivas dos jogos, mas acontecem muito nesse meio. E usar isso para ter mídia, visualização… Isso é ruim, eu particularmente não gosto mais de fazer esse tipo de trabalho”, disse.
Para Amanda, grandes problemas também acontecem nos bastidores de campanhas. Ela explicou que já fez diversos trabalhos com amigos e descobriu, posteriormente, que o cachê deles era muito superior ao seu, mesmo que ambos tivessem os mesmos índices de engajamento e números como influenciadores.
Mas a dúvida que fica é: como então as marcas podem apoiar o cenário feminino verdadeiramente? AMD deu a resposta e ela é bem simples:
“Apoiar mulheres streamers pequenas. Tem muita mulher, principalmente mulher preta, mulher trans no cenário. E são mulheres que pouquíssimas marcas apoiam com patrocínio”, contou.
E, é claro, as marcas não devem fazer isso apenas em datas comemorativas. É preciso entender que as mulheres são parte desse ecossistema e não apenas “elementos” que vão tornar o discurso da empresa mais inclusivo e cheio de boas intenções.
Chegou o momento de entender a relevância das mulheres nesse jogo e tratá-las como verdadeiras peças-chave para o desenvolvimento deste cenário.
Na edição de hoje, não trouxemos exemplos de campanhas legais sobre o assunto. Não que elas não existam, porque existem, sim.
Mas o que queremos, no final das contas, é não ter que panfletar pelo fim da violência e preconceito contra as mulheres no cenário. Queremos ser parte de um universo que é infinito de possibilidades maravilhosas e que também é construído e sustentado por nós.